02 outubro 2013

györgy somlyó / cavafy escreve os seus primeiros poemas



        Alexandria, anos 900

 
Ele não esperava os bárbaros
sabendo no entanto que viriam,                                          
hei-los já nos degraus do império.
Ele sabia que em vagas sucessivas
   inexoráveis afogariam o século.
Isso o decidiu a não publicar os seus poemas
   - nem aquele em que agora trabalhava -;
mandou imprimir apenas alguns exemplares para os amigos
mas esses em papel Héliona, com caracteres
   Héraclite, copiados das estelas arcaicas e
   classicizantes.
Os bárbaros: ele sabia que a história os aguarda sem descanso
e os envia, e sempre os bárbaros chegam,
mas não trazem consigo qualquer solução.
Apenas com esses caracteres estranhos, impressos
   com cuidados especiais em luxuoso papel artesanal 
   se torna possível combatê-los
só através deles, colocados num ângulo preciso em face
   da luz que transparece em filigrana, esse saber
permite assinalar aos homens do futuro
que os bárbaros estarão sempre ali,
mas que a solução - se acaso existe - estará sempre
   algures,
sempre nesses caracteres gravados à mão, nesses papéis
Héliona de uma brancura de linho, tirados manualmente
   do banho sujo da história.



györgy somlyó
poemas
tradução de egito gonçalves 



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