15 setembro 2013

ana hatherly / a varanda de julieta



Em Verona
a casa da Julieta
é pequena, escura, insignificante.
O edifício está enegrecido
só a varanda de pedra foi limpa:
destaca-se como um grito branco
numa boca escura.

Tudo é um pouco de menos
nesta fachada demasiado obscura
agora brutalmente iluminada
pela luz fluorescente
duma loja de design
colocada mesmo em frente
no mesmo pátio
no mesmo átrio mítico.

Fui procurar
a memória da história
e encontrei a tecnologia
gritando
contra o endurecido mito
do sentimento
petrificado no tempo.

Tinha esquecido que o amor
é coisa mental
e que na superfície do real
é como um grito branco
numa boca escura.

  

ana hatherly



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