Nunca serei vencida. 
Não o serei 
senão à força de vencer. 
Cada armadilha estendida 
fechando-me cada vez mais 
no amor 
que acabará por ser o meu 
túmulo, 
acabarei a minha vida numa cela 
de vitórias. 
Sozinha, 
a derrota encontra chaves, 
abre portas. 
A morte, 
para atingir o fugitivo, 
tem de se pôr em movimento, 
perder essa fixidez 
que nos faz reconhecer 
que ela é o duro contrário 
da vida. 
Ela dá-nos o fim do cisne 
atingido em pleno voo, 
de Aquiles agarrado pelos
cabelos 
por não sabermos que sombria
Razão. 
Como a mulher asfixiada no
vestíbulo 
da sua casa de Pompeia, 
a morte não faz mais do que
prolongar 
no outro mundo os corredores 
da fuga.
A minha morte será 
de pedra. 
Conheço as passagens, 
as curvas, 
as armadilhas, 
todas as minas da Fatalidade. 
Não posso perder-me. 
A morte, 
para me matar, 
terá necessidade da minha 
cumplicidade.
marguerite yourcenar
fogos
trad. de maria da graça morais
sarmento
difel
1995
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