06 junho 2009

marosa di giorgio / os papéis selvagens





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Pus um ovo, branco, puro, brilhante; parecia uma estrela ovalada. Mas anos atrás, já tinha posto outro, celeste, e outro cor de rosa; mas este era puro, branco, brilhante e o mais bonito. Coloquei-o numa taça com a mão por cima, para que não perdesse o brilho; mimei-o com descrição, com certa indiferença fingida. As mulheres ficaram invejosas, insidiosas, criticavam-me; ostensivamente cobriam os ombros e alongaram os vestidos.

Prossegui, inflexível.

Não posso dizer o que saiu do ovo porque não sei; mas, seja o que for, ainda me segue; a sua sombra filial e terna, abate-se sobre mim.








marosa di giorgio
os papéis selvagens
tradução de rosa alice branco
encontros de talábriga







3 comentários:

  1. Um homem sabe um ovo. o ovo sabe um ninho. as mulheres? maldizem sempre e a vida segue.

    vivemos.

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  2. hummm... ternura de texto!
    Adorei!

    Nem sempre saravasti, as mulheres maldizem!... e nem só elas maldizem!...

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  3. é "guardar" os mistérios que seguimos em nós!!!

    Um abraço.
    Jefferson.

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