25 junho 2009

antónio josé forte / memorial






As tuas mãos que a tua mãe cortou
para exemplo de uma cidade inteira
o teu nome que os teus irmãos gastaram
dia a dia e que por fim morreu
atravessado na tua própria garganta
as tuas pernas os teus cabelos percorridos
rato após rato tantos anos
durante tanta alegria que não era tua
os teus olhos mortos eles também
na primeira ocasião do teu amante
assim como as palavras ainda fumegando docemente
sobre as pedras de silêncio que lhes atiraram para cima
o teu sexo os teus ombros
tudo finalmente soterrado
para descanso de todos
- mesmo dos que estavam ausentes






antónio josé forte
edoi lelia doura
antologia das vozes comunicantes da poesia moderna portuguesa
organizada por herberto helder
assírio & alvim
1985







4 comentários:

  1. Outro belissimo poema, de uma realidade atroz, mas não para todos!...
    Nem todos se deixam assim vencer!
    Bj

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  2. Excelente, muito intenso e bem escrito!

    Beijinhos,
    Ana Martins

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