08 julho 2008

o medo da loucura







1913, 4 de Dezembro

(…)

O medo da loucura. Ver a loucura em todas as emoções que se esforçam sempre para a frente e que nos fazem esquecer de tudo o resto. Que é, então, a não loucura? A não loucura é ficar parado, de pé, como um mendigo à soleira da porta, ficar ao lado da entrada, apodrecer e cair. Mas P. e O. são de facto loucos repugnantes. Deve haver loucuras maiores do que aquela que os imortaliza. O que é repugnante é, talvez, este inchar de pequenos loucos na grande loucura. Mas Cristo não apareceu aos fariseus precisamente á mesma luz?

(…)




franz kafka
diários (1910-1923)
trad. maria adélia silva melo
difel
1986







2 comentários:

  1. Poesia

    Poesia não é cantar
    mas sentir sensações,
    contornar o sentido
    dum achado vivido.

    Embora não pensado
    plenamente tido.

    Não fingido.

    Não é a lógica,
    não é a verdade,
    mas a maneira
    de dizer a verdade dela.

    Ela não sou eu!

    Ela é essa coisa
    que esboaça e por mim passa,
    através de mim,
    para atingir um fim:

    De mim leva,
    o que em mim passa.

    Manuel Pereira da Silva

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  2. De novo a velha distinção: ao nível
    literário o excerto é do melhor...
    e só podia, o grande Kafka! Um dos
    meus autores preferidos! A este nível até se percebe a tese central de Kafka; ao nível científi
    co...

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