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Escrevo-lhe do fim do mundo. É preciso que o saiba. Amiúde as árvores tremem. Apanham-se as folhas. Têm uma imensa quantidade de nervuras. Mas de que servem? Não há mais nada entre elas e a árvore, e dispersamo-nos, incomodados.
Será que a vida na terra não poderia prosseguir sem vento? Ou será preciso que tudo trema sempre, sempre?
Há também tumultos subterrâneos, e dentro de casa, como raivas que surgissem à nossa frente, como seres severos que quisessem arrancar confissões.
Não se vê nada, como se importasse muito pouco ver. Nada, e todavia treme-se. Porquê?
henri michaux
(escrevo-lhe de um país distante, 1942)
antologia
trad. margarida vale de gato
relógio d´água
1999
Esse texto é tão bonito que eu o transformei em estrofes, ele é poesia pura, não bruta, mas pura, trabalhada com a simplicidade que só os grandes poetas tem, cujo o singelo sentimento é muitas vezes mais profundo do que verborrágicas laudas clássicas.
ResponderEliminareis aqui como eu o deixei:
je vous écris d´un pays lointain
Escrevo-lhe do fim do mundo.
É preciso que o saiba.
Amiúde as árvores tremem.
Apanham-se as folhas.
Têm uma imensa quantidade de nervuras.
Mas de que servem?
Não há mais nada entre elas e a árvore,
e dispersamo-nos, incomodados.
Será que a vida na terra não poderia prosseguir sem
vento?
Ou será preciso que tudo trema sempre, sempre?
Há também tumultos subterrâneos, e dentro de casa,
como raivas que surgissem à nossa frente,
como seres severos que quisessem arrancar confissões.
Não se vê nada, como se importasse muito pouco ver.
Nada, e todavia, treme-se. Por quê?
espero que todos gostem ou o melhorem se isso for possível!
abraços