18 junho 2025

rui diniz / notas de viana e arredores

 
 
 
Li pouco, este Verão. O «Retrato em Movimento», Ruy
Belo, puros esboços de leitura entre as
longas e extenuantes deliberações poéticas em
papel que comprara em Tuy numa papelaria.
Escrevi, pois. E de regresso de Lisboa, viveria,
viveria, desintegraria em mim todas as
objecções cósmicas e regressaria de mãos
vazias a mim mesmo. Falta-me
uma qualidade: a paciência. Sou acima
de tudo um ser inquieto perante a
ideia da morte. Estou incapaz de criar.
 
 
rui diniz
ossos de sépia
noemas
língua morta
2022




2 comentários:

  1. Rui, há algo de profundamente comovente na tua entrega esse modo cru de dizer “li pouco”, mas ter vivido tanto entre silêncios, papéis e inquietações.
    Talvez o que você chama de “incapacidade de criar” seja apenas o intervalo onde a alma se reorganiza, à revelia do próprio corpo, para continuar sendo o que é: um ser em estado de erosão e espanto. A inquietude diante da morte talvez seja, no fundo, a própria faísca do que nos faz criadores não no sentido da produção, mas da sensibilidade que transforma o insuportável em linguagem, ainda que trêmula. E voltar de mãos vazias a si mesmo pode ser o mais fértil dos retornos.
    Sigamos, mesmo sem paciência. Sigamos, mesmo quando tudo parece suspensão. Às vezes é aí que a poesia nos escreve.
    Com admiração e silêncio partilhado,

    Fernanda!

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  2. A maior questão, o medo e a angústia do homem desde o momento em que nasce até ao fim, é a morte. A única solução para isto é a criatividade (poesia)... Assim, mesmo sem paciência, está no bom caminho... Poema maravilhoso!!

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