Belo, puros esboços de leitura entre as
longas e extenuantes deliberações poéticas em
papel que comprara em Tuy numa papelaria.
Escrevi, pois. E de regresso de Lisboa, viveria,
viveria, desintegraria em mim todas as
objecções cósmicas e regressaria de mãos
vazias a mim mesmo. Falta-me
uma qualidade: a paciência. Sou acima
de tudo um ser inquieto perante a
ideia da morte. Estou incapaz de criar.
ossos de sépia
noemas
língua morta
2022
Rui, há algo de profundamente comovente na tua entrega esse modo cru de dizer “li pouco”, mas ter vivido tanto entre silêncios, papéis e inquietações.
ResponderEliminarTalvez o que você chama de “incapacidade de criar” seja apenas o intervalo onde a alma se reorganiza, à revelia do próprio corpo, para continuar sendo o que é: um ser em estado de erosão e espanto. A inquietude diante da morte talvez seja, no fundo, a própria faísca do que nos faz criadores não no sentido da produção, mas da sensibilidade que transforma o insuportável em linguagem, ainda que trêmula. E voltar de mãos vazias a si mesmo pode ser o mais fértil dos retornos.
Sigamos, mesmo sem paciência. Sigamos, mesmo quando tudo parece suspensão. Às vezes é aí que a poesia nos escreve.
Com admiração e silêncio partilhado,
Fernanda!
A maior questão, o medo e a angústia do homem desde o momento em que nasce até ao fim, é a morte. A única solução para isto é a criatividade (poesia)... Assim, mesmo sem paciência, está no bom caminho... Poema maravilhoso!!
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