02 dezembro 2024

pedro homem de mello / carta a eugénio de andrade

 
 
 
Porto. Abril. Tantos de tal…
E contínuo a teu lado,
Hoje como ontem. Igual
A mim próprio: abandonado
Por todos, menos por ti.
Posto que tão diferente
Seja o berço em que nasci
Da praia, livre, onde passas
Com Sol a pino. Sorriste
Alheio às minhas desgraças?
Vê: mendigo sou que aceita
Mesmo uma côdea de pão,
Mas que traz na mão direita
A flor que as roseiras dão…
Vela pagada ou acesa?
– Sei que me podem comprar
Tudo, menos a nobreza
De sorrir quando há luar…
 
 
 
pedro homem de mello
eu desci aos infernos (1972)
poesias escolhidas
imprensa nacional-casa da moeda
1983




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