19 outubro 2024

al berto / doze moradas de silêncio

 
 
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hortelã bravia esmagada contra o rosto
seiva morna sobre o ventre emaranhado nas trepadeiras
secas latas de conserva detritos de comida
um fio de azeite escorre da boca
 
louras flores murchas girassóis ladeando a estrada
jasmins de leite germinando no estrume
animais irreconhecíveis atravessam as veredas da noite
com um estrondo de lume que estilhaça
 
talvez seja uma hora da manhã em todos os relógios
longe daqui… preparam-se fogueiras pelas praias
silhuetas de corpos separam-se das chamas
caminham à procura doutros fogos segredados
 
alvéolos de sémen ardem… os sexos
em combustão no seio molhado de nocturnas conchas
rostos incendiados flutuam na frágil espessura da alba
regressam lentos à outra margem diluída na bruma
inacessível
 
 
 
al berto
doze moradas de silêncio 1978/1979
o medo
assírio & alvim
1997




 

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