16 janeiro 2024

ricardo vasconcelos / em louvor de ruy belo

 
 
Sempre que o leio
vem-me à boca o sabor virginal dos frutos de infância
o sabor da terra calcada ao fundo do quintal com botas de criança
O sorriso no pano de fundo de amargura
o Portugal onde nada acontece mas tudo dura o lado negro
claro Mas a pureza sim a pureza a criança
os filhos a mulher teresa
o amor belo a amante
o resistir
o existir
os outros poetas depois da morte era
o som da música herberto helder das essências em corrupio
o sopro da palavra um rodopio do ar em falta versos e
versos de comboios de sílabas sem pontuação sequer espanta
sempre só com letras grandes e ainda longe do final
a despedida demasiado longamente antecipada este desejo
em louvor do vento Que te dedico Com muito amor
A ti que gostaria de conhecer um dia melhor
de carne e pele ou osso e corpo e sobretudo
pelo sorriso ao olhar
agora vi-te a sorrir de novo vou despedir-me talvez quem sabe
não muito perto não muito longe
um dia chegue a te encontrar.
 
 
 
ricardo vasconcelos
apeadeiro
revista de atitudes literárias
nr. 1 primavera 2001
quasi
2001




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