25 setembro 2023

pedro de queirós tavares / pardaleco

 
 
 
Sou este migalho de aldrabice
que vive nas árvores ocas
(tolhido para não afugentar os pintassilgos)
sempre com os pés para a noite como se a luz me denunciasse:
atentem, ali vai a versão pardaleco do homem possível
Entretenho-me a fazer fogueiras com as mãos
apesar de encarquilhadas de tanto escarafunchar os olhos
o segredo é não esbanjar as pinhas
é tudo o que sei sobre calor
Sou esta batota que escorraça em leque
e só está bem na cama
com o focinho enterrado na própria máscara
de gesso de viúvo de colisão entre comboios
favoreço o musgo
e sou inseparável desta colecção de navalhas imaginárias
não acredito em meias
só em música desgrenhada
Deixo palitos por todo o lado
como um gatuno morto por ser apanhado
cheio de ouro a escorrer-lhe dos dentes
o meu espelho é o vácuo
até te mostrava a barriga não fossem as marcas dos rodados
há uma toupeira no meu estandarte
e uma mulher invisível de bonita
por quem espero
 
 
pedro de queirós tavares
se tens fósforos
fresca / poetria
2023
 



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