29 julho 2023

dennis cooley / eles sofrem de má circulação

 



 
já alguma vez vos escutastes a vós mesmos
é verdade que nunca escutais ninguém
          mas por que não tentais para variar
ficar acordados e ver o que acontece para variar
 
 
vós nessas vossas celas monásticas nessa vossa comunhão de antos
alguma vez vos ocorreu como sois onanistas
como sois dados a poupanças poupar isto poupar aquilo
o quanto sois guiados por lucros pregais a re
tenção de depósitos esse cu forreta essa economia de sangue
quero dizer tendes já montes de hemorroidas & isso não chega
é preciso ter mais até onde chega essa sede de sangue
vós & a vossa pena capital
 
 
sofreis de má circulação varizes
incham essas barrigas de sapo de juros tingidos de sangue azul
claro que há mau sangue entre nós que é que
quereis vós e a vossa má língua como fazeis estalar
o porta-moedas os lábios apertados púrpuros & presumidos
quase gritam há uma terrível
obstipação precisais de soltar-vos
vós & as vossas luas cintadas
essa persistência parva & presa com ligas
 
 
precisais de pôr as coisas em circulação estais a morrer
gangrenados do coração envilecido & cartilaginoso
precisais de comer o meu corpo para vos fortificardes
mais cedo ou mais tarde havereis de comer
as minhas palavras minhas senhoras & meus senhores palavra
da forma que comeis dos outros as suas escudelas de sangue
 
 
apenas pode significar uma coisa os pequenos espíritos vis
que amealhais fazem-vos temer a inflação a maré vermelha
o raide vermelho quando fingindo ser uma flor
de parede sois reconhecidos como o banco de sangue
ambulante que na verdade sois sujeito a levantamentos
adiantamentos nacionalizações impostos a sin
taxe de renovação todas as purgas não temais
alinhai comigo eu hei-de salvar-vos
de vós mesmos caros cidadãos
 
 
 
in Seeing Red. Winnipeg: Turnstone Press, 2003, pp. 115-116
 
 
 
dennis cooley
tradução de manuel portela
relâmpago
revista de poesia
nr. 17/10 2005
a tradução de poesia
fundação luís miguel nava
2005




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