25 fevereiro 2023

a. c. swinburne / encontro



 
Se o amor fosse o que é a rosa,
     E eu fosse como uma folha,
As nossas vidas cresceriam juntas
No tempo sombrio ou no tempo de uma canção,
Nos campos ventosos ou nos cercados floridos,
     No prazer verde ou na dor sombria.
Se o amor fosse o que é a rosa
     E eu fosse como uma folha.
 
Se eu fosse o que são as palavras
     E o amor fosse como uma melodia
Com um duplo som e um único
Deleite confundir-se-iam os nossos lábios
Com alegres beijos como são os pássaros
     Que procuram a suave chuva do meio-dia.
Se eu fosse o que são as palavras
     E o amor fosse como uma melodia.
 
Se tu fosses a vida, meu amor,
     E eu, o teu amor, fosse a morte,
Brilharíamos e apagar-nos-íamos juntos
Antes de Março amenizar o tempo
Com o junquilho e o estorninho
     E o fecundo alento das horas.
Se tu fosses a vida, meu amor,
     E eu, o teu amor, fosse a morte.
 
Se tu fosses serva da dor
     E eu fosse o pajem da alegria,
Brincaríamos durante a vida e as estações
Com olhares amorosos e pérfidos,
Com lágrimas da noite e da manhã
     E os risos de donzela e adolescente.
Se fosses serva da dor
     E eu fosse o pajem da alegria.
 
Se tu fosses a dama de Abril
     E eu fosse senhor em Maio,
Arremessaríamos flores durante horas
E colheríamos flores durante dias
Até que o dia fosse sombrio como a noite
     E a noite como o dia fosse luminosa.
Se tu fosses dama de Abril
     E eu fosse senhor em Maio.
 
Se tu fosses a rainha do prazer
     E eu fosse o rei da dor,
Perseguiríamos juntos o amor,
Arrancaríamos as suas penas para voar
E daríamos ritmo aos seus pés
     E refrearíamos a sua boca.
Se tu fosses a rainha do prazer
     E eu fosse o rei da dor.
 
 
 
a. c. swinburne
poemas
tradução de maria Lourdes Guimarães
relógio d’ água
2006
 


 


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