28 de janeiro de 1956
seria fácil dizer que estaria disposta a lutar por
ti, ou a roubar e a mentir; há em mim muito desse desejo de me entregar ao
máximo, e se os homens lutam por causas, as mulheres lutam pelos homens. numa
crise, é fácil dizer: irei erguer-me e permanecer ao teu lado, mas aquilo que
eu faria é também o mais difícil para mim, com a minha tendência absurda para o
idealismo e o perfeccionismo: acredito que estaria ao teu lado e te alimentaria
e esperaria contigo ao longo dos inevitáveis reinos de mesas, cadeiras,
couves-flores até esses raros e fantásticos momentos em que somos anjos, e nós
somos anjos em crescimento (algo que os anjos celestes nunca poderão ser), e somo-lo
quando, juntos, fazemos com que o mundo se ame a si mesmo e arda. eu sentar-me-ia por ali, a ler, a escrever, a
escovar os dentes, ciente de que em ti havia as sementes de um anjo, o meu tipo
de anjo, com o fogo e espadas e um poder abrasador. porque é que levo tanto
tempo a descobrir para que são feitas as mulheres? essa noção irrompe devagar
em mim, insistente, como bolbos de túlipas em abril.
sylvia plath
diários 1950-1962
trad. josé miguel silva e inês dias
relógio d´ água
2021
Absolutamente redutor, este texto.
ResponderEliminarPara as mulheres, digo