10 novembro 2021

eugénio de andrade / as mãos e os frutos

 
 
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Tu és a esperança, a madrugada.
Nasceste nas tardes de setembro,
quando a luz é perfeita e mais doirada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.
 
Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.
 
Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem,
Fundo, como quem bebe a madrugada.
 
 
 
 
eugénio de andrade
as mãos e os frutos (1945-1948)
poesia
editorial inova
1971

 




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