30 outubro 2021

pedro spigolon / pressa seca

 
 
 
Só cessa o exílio
se a mala vira bote
mas até quando repetirei esse apelo
sem encontrar rio algum?
Poderia desenhar uma paisagem
com o meu corpo seco
mas desconheço o motivo das nascentes
e ignoro o passar do tempo.
O rio seca a pressa quando
espalha a imaginação do céu
e as nuvens se demoram
na imitação dos bichos:
um cavalo, um peixe
mas se é um e também outro
não guardaria o céu
a morte do tempo?
Toda a fauna numa nuvem
não devora os minutos?
Os relógios murcham as nuvens
E os homens contam os segundos
ainda mais quando têm pressa
de fugir ao trabalho
E tem-se pressa de viver
algo bom no futuro
quando tudo será calma e cansaço.
Poderá divertir-se com tolices
como quem cumpriu sua meta
e permitirão descansar
os sapatos sujos
no sofá à prestação.
Assim, adiando os dias,
sequer poderemos caçar nuvens
e ouvir o riso dos rios.
 
 
pedro spigolon
espanto
editora medita
2015





 

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