06 setembro 2021

essma’il kho’i / no eclodir do outono

 
 
 
No eclodir do outono estou de pé.
No eclodir do outono
     – iludir-me-ei, talvez? –
        as folhas, estas ciganas felizes,
            prepararam a festa do levantar do acampamento.
Em todas as asas do vento
     as árvores ergueram chafarizes
        de fogos-de-artifício.
E na algazarra, prenhe de silêncio,
     a alegre fénix das cores e perfumes,
        sobre a frieza e as cinzas da aragem
            eriça sua plumagem.
«Voltarei»
     sussurra.
A sua volta
     é segura.
E contra a morte
     a folha
            se mostra mais forte.
No eclodir do outono estou de pé.
Meus olhos cheiram
Tantas cores verdadeiras
No limiar do perecer e do não-ser
E no meio dos aromas do murchar e do carinho.
O que perece na cor resplende
Até onde meu olhar se estende.
E do perfume a cor eu vejo
     no perfume da cor.
Tão leve estou
Que meu Eu à luz e às moscas se parece.
E a suave carícia do ar,
No ciciar da seda do vento nocturno
Pesa, soturno,
     sobre as asas da pomba do meu Eu.
 
E assim
     sou eu,
Que, se soubessem
     Os sábios, os mártires, os santos e Deus,
Saberiam,
Que,
Se é preciso ser,
Assim se precisa ser.
No eclodir do outono
                                       cantarei
Esta certeza mais límpida que o sol:
A morte é apenas um sono.
[…]
E não é a folha
                            que cai.
É a morte que sai
                                em debandada.
E assim a tristeza mais alegre se faz
     que, em meu ânimo e sangue.
        caia uma chuva de estrelas.
E sou eu, de quem o verso se agrada.
 
 
 


essma’il kho’i
trad. kurt scharf
rosa do mundo
2001 poemas para o futuro
assírio & alvim
2001





 

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