09 agosto 2021

john ashbery / algumas árvores

 
 
Estas são notáveis: cada uma
Ligando-se à seguinte, como se a fala
Fosse uma representação imóvel.
Combinando por acaso
 
Encontrar-nos tão distantes esta manhã
Do mundo como concordes
Com ele, tu e eu
Somos de repente o que as árvores tentam
 
Dizer-nos que somos:
Que só o aí estar delas
Significa algo: que em breve
Poderemos tocar-nos, amar, explicar.
 
E contentes por não termos inventado
Um tal decoro, estamos cercados:
Um silêncio já cheio de ruídos,
Uma tela em que emerge
 
Um coro de sorrisos, uma manhã de Inverno.
Postos sob uma luz enigmática, e movendo-se,
Os nossos dias adoptam uma tal reticência
Que estas inflexões parecem a sua própria defesa.
 
 
 
 
john ashbery
auto-retrato num espelho convexo e outros poemas
tradução antónio m. feijó
relógio d’ água
1995

 





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