06 abril 2021

rené char / artine

 
 
Na cama que me tinham preparado havia: um animal ferido e sanguinolento, do tamanho de um brioche, um cano de chumbo, uma rajada de vento, uma concha gelada, um cartucho de bala disparada, dois dedos de uma luva, uma mancha de óleo; não havia porta de prisão, havia o sabor da amargura, um diamante de vidraceiro, um cabelo, um dia, uma cadeira partida, um bicho da seda, o objecto roubado, uma corrente de gabardine, uma mosca verde domesticada, um ramo de coral, um prego de sapateiro, uma roda de autocarro.
(…)
 
 
rené char
este fanático das nuvens
furor e mistério
martelo sem dono (1930)
tradução y. k. centeno
cotovia
1995



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