25 janeiro 2021

m.ª eloy-garcía / rumor

 
 
O rumor de uma cidade não tem forma de nada
ainda que o vento traga até aqui data e anos
e milhões de palavras
que foram ditas / de ruídos que foram feitos
por outros e se condensaram no ar /
chovem assim verbosgotas de passado acumulado
nucleares presentes que mesmo ao dizer mesmo
disfarçam o seu sentido de passado /
o rumor de uma cidade não tem corpo de soluço
o rumor é a própria cidade acendendo-se
o rumor são milhares de pègadas ao mesmo tempo sobre a erva
e oito milhões e quinhentas mil folhas tocando o chão
 
 
 
 
m.ª eloy-garcía
poesia espanhola, anos 90
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000



 

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