08 janeiro 2021

joão camilo / e voltaste

 
 
Pela janela vêem-se as mesmas árvores,
há uma planta no rebordo com folhas secas.
Passou o tempo e K. voltou
ao lugar do incêndio, à adolescência
que se prolongava, ao lugar
que vira nascer as ilusões e o amor.
De que lhe servira ter acreditado?
O destino do homem é-lhe inacessível.
Queima-o ainda, durante um longo instante,
a paixão que teve por essa mulher,
a memória do amor veemente.
Ali sentado, há tantos anos já,
lia e ouvia música.
Mas todo o amor é impossível.
Tremem-lhe as pernas,
é como se estivesse
à beira de um precipício.
Lá fora o silêncio
e a paz são intensos.
 
 
 
joão camilo
hífen 7 abril, 1992
cadernos semestrais de poesia
dias inúteis
1992




 


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