Ruy Cinatti
dos dias do norte.
adorava a humidade sobre o rosto:
pouso no chão o telefone
sobre o tapete cinzento
e ajusto a luz nas persianas;
ria-se por nada às sextas-feiras
quando ao entardecer
enlouquece de súbito a cidade:
fecho a varanda
em pleno agosto para impedir
que se espalhe a campainha;
não perdia uma única
das manhãs de feira,
as rifas, as lojas com sardinhas:
abro um livro para fechá-lo,
não me sobressalte a meio de um verso
o som do telefone;
atava à esquerda
o cachecol sobre a gabardina
desproporcionalmente clara:
ponho um disco, embora baixo,
e olho com prazer o aparelho
mudo sobre o tapete;
gostava de passar a noite em comboios,
apanhar aviões, camionetas
para qualquer lado:
no meu caderno anoto uma data mais,
outro dia, outro mês, outro ano,
eu estou sempre aqui.
o dom impuro
antologia
trad. joaquim manuel magalhães
averno
2004
Aqui, também eu estou
ResponderEliminare já me parece que há tempo demais,
quantas vezes abro um livro
com intenções de o ler
acabando por fechá-lo,
sem ler mais do que uma frase;
hoje comprei um cachecol,
em tons de beige e cinza,
não gosto de sapatilhas com atacadores,
pelo que não ato nem à esquerda nem à direita,
só compro daquelas que fingem ter,
mas são de enfiar o pé...
Se continuo a visitar este blogue, qualquer dia estou apta a escrever poesia tão impura e simultaneamente tão verdadeira, como qualquer bom poeta contemporâneo.
Olhe...como nunca me responde, quando quiser que eu lhe desampare a loja, não publique os meus comentários, ok?
😊
EliminarQuem gere um blogue como este de poesia, tão diversificada, se calhar tem de ser reservado
😊
Tb temos este gosto em comum, pelos vistos