02 outubro 2020

luis alberto de cuenca / in illo tempore

 
 
Os teus pais tinham ido não sei onde
e a casa ficara só para nós,
como aquele convento abandonado
do poema de Jaime Gil de Biedma.
Com a música no máximo, fizeste
uma mistura explosiva num jarro
enquanto eu te tirava, docemente,
a roupa da cintura para cima.
Encheste dois copos até ao topo.
Bebemos. Veio aquele riso parvo,
e ficámos com um brilho nos olhos
que sublinhava a nossa juventude,
e então beijámo-nos como nos filmes,
e amámo-nos como nas canções.
 
Quando a realidade era o desejo
e o nosso reino não era deste mundo.
 
 
 
luis alberto de cuenca
a vida em chamas
uma antologia
trad. miguel filipe mochila
língua morta
2018





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