Eu tinha acabado de escrever
na folha ocasional
que a poesia era o lugar da ausência.
As mãos tinham partido:
cada uma teria agora a sua solidão
como travesseiro imediato.
Na escrita, o seu rosto afogado
cantava na esferográfica. Eu sonhava
a mão que pousa numa rótula
e nesse gesto hipoteca a morte.
Então abri um livro de Lezama Lima:
ele definia a poesia
como Metáfora da Ressurreição.
O sol desabotoou-se todo. Brilhava
nos recifes, abria-se nos pulmões.
As cidades ganham relevo
em estado de paixão. A voz
do vidraceiro afastava-se. Fiquei
a ouvi-la desaparecer. Nada doía.
Podia continuar a dar notícia.
hífen 8 janeiro
cadernos semestrais de poesia
artes poéticas
1994
Hoje merecia, mesmo que em inglês (penso que só há uma antologia traduzida em português), um poema da premio Nobel, Louise Gluck.
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