12 março 2020

daniel francoy / a lucidez de sancho pança



Ainda hoje, ao encontrar um inimigo
de outrora, abominável assassino,
cumprimentei-o alegremente:
olá, moinho de vento! Reconheço
agora a tua verdadeira natureza
e não te enfrento porque já não carrego
as armas e as loucuras de um velho.
Funciona sempre, amigo, sê
o que verdadeiramente és: moinho
do amanhã, o que transforma a água
em fogo, o que torna leves e aprazíveis
estes nossos ares pestilentos.



daniel francoy
identidade
editora urutau
2016






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