I
É então isto o mar, esta enorme suspensão.
Como o remendo do sol evidencia a minha queimadura.
Sorvetes de cores eléctricas, tirados da geladeira
Por raparigas pálidas, andam pelo ar em mãos queimadas.
Por que está tudo tão silencioso, que estarão a esconder?
Tenho duas pernas e movo-me sorridentemente.
As covas na areia destroem vibrações;
Estendem-se por quilómetros, vozes já quase sem som
Acenando sem suporte, metade da altura que tinham.
As linhas dos olhos, escaldadas por estas superfícies nuas.
Bumerangue preso por elásticos, ferindo o dono.
É de admitir que ele ponha óculos escuros?
É de admitir que ele exiba sotaina preta?
Aí vem ele no meio dos apanhadores de cavala
Que se põem como um muro à sua volta.
Agarram nos losangos pretos e verdes como se fossem bocados
de um corpo.
O mar, que tudo isto cristalizou,
Afasta-se lentamente, como as serpentes, soltando um longo
e triste silvo.
sylvia plath
ariel
trad. maria fernanda borges
relógio d´ água
1996
O mar é cristalino tudo nos dá. Mas por vezes no silêncio tudo nos tira.
ResponderEliminarBrinca com o tempo e é nobre de espírito.
Continuação de uma boa semana.
Um sorriso de luz.
Megy Maia