18 novembro 2019

nicolau saião / poemas desenhados




2. GIORGIO MORANDI

Ondas de sangue adormecem
solitárias, nocturnas, imprecisas

As veias são assim, na tela clara
das naturezas mortas

As tuas mãos, pausadamente
contam o tempo
da gestação dos frutos
e desvendam-nos coisas nos sentidos

Uma aqui, outra ali

E depois nós olhamos
a árvore, a catedral, o rio imóvel

O corpo e a maçã erguem melhor
o firmamento, a luz sobre as cadeiras
– são o retrato
das diferentes imagens invisíveis
animais, vegetais e minerais

Um ruído lá fora

Um pequeno barulho pouco a pouco desfeito.




nicolau saião
apeadeiro
revista de atitudes literárias
n.º 2 primavera de 2002
quasi
2002





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