07 junho 2019

sophia de mello breyner andresen / aqui



Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem,
No interior das coisas canto nua.

Aqui livre sou eu – eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos,
Aqui sou e em tudo quanto amei.

Não por aquilo que só atravessei,
Não p´lo meu rumor que só perdi
Não p´los incertos actos que vivi,

Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.



sophia de mello breyner andresen
dia do mar
obra poética
assírio & alvim
2015







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