27 janeiro 2019

francis ponge / doze pequenos escritos




I
Desculpem esta aparência de defeito nas nossas relações. Nunca saberei explicar-me.

Ser-vos-á impossível considerar-me a cada encontro como um bolo? Agora rio-me de falar disto tão a sério, varo Horatio! Tanto pior! Qualquer que seja vinda de mim a palavra guarda-me melhor que o silêncio. A minha cabeça de morto parecerá iludida pela sua expressão. Isso não acontecia a Yorick quando falava.

II
Forçado muitas vezes a fugir pela palavra, que ao menos eu tenha podido por vezes desfigurar um pouco, revirada por um golpe de estilo, essa bela linguagem, para que em suma ela renomeie Ponge segundo Paulhan.



francis ponge
alguns poemas
tradução de manuel gusmão
livros cotovia
1996






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