19 dezembro 2018

juan luis panero / lenha e cinza



Falamos de sórdida política ou de alguém que acaba de
          telefonar,
das mudanças do dia e das rajadas da nortada,
tudo sem importância ou demasiado importante,
por vezes aborrecido e sem dúvida íntimo, pouco grandiloquente.
Depois de tantos anos conhecermos as perguntas e as suas vagas
          respostas,
mas ainda assim surgem as palavras, que se esfumam
como o fumo dos cigarros ou da lareira.
Impassível como a lenha, indecifrável como a cinza,
assisto à tua remota presença – tão próxima –
e sei que os teus lábios e este copo vermelho
apenas anunciam, reflectem, um tempo de derrota.



juan luis panero
poemas
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2003







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