20 outubro 2018

john havelda / um ford modelo t




                    Para M.E.


Ford pensou fazer fortuna
a fabricar relógios.
Mas, enfim, nem toda a gente
precisa de um relógio.


Normalmente, não acreditava
em pregar as janelas das suas ideias infelizes
tão cedo. Aquela, no entanto, ele bem via
que não ia longe.

Nem toda a gente precisa de um relógio, mas o que toda a gente
deseja em breve se tornou claro.
Um belo dia, entediado com o tilintar do gelo
no seu cocktail, pôs-se a olhar quem passava para lá
e ao fim do segundo copo,
passava para cá. Na verdade ninguém
estava ali,
em frente àquela janela.
«Sou o único aqui», disse ele,
e bateu palmas porque finalmente
nascera a fortuna.
Enquanto pulava pela sala,
entornando gin na camisa,
até ele se tornou um freguês potencial,
porque ninguém, nem mesmo sua excelência
o próprio senhor Henry Ford
quer ficar onde está.



John havelda
poesia do mundo
tradução do autor
edições afrontamento
1995








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