11 julho 2018

al berto / salsugem




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o mar arrasta
depois atira o corpo para fora do sonho que me roubou
e a noite
a violenta noite das marés arremessa contra a cama
velhas madeiras restos de vestuário pedaços de corpos
envoltos no coral… rostos
órgãos corroídos pela ferocidade dos peixes

qualquer porto era bom para embarcar
fugir às tribos e ao sol impiedoso
ir em busca de sossego noutras ilhas nocturnas
outros desertos onde o amor se revela e os olhos ficam atentos
ao movimento luminoso dos corpos atravessando
os dias lentos sem regresso

queimava as horas de viagem a esmagar saliva
aprendia a sonâmbula fala dos golfinhos
os dedos enlouquecidos pelas amarras
gritava… «Ó Fogo de Santelmo! Ajudai! Ajudai!»

e da insuspeita travessia para sul
vinha a poeira da noite com o embriagante perfume das orquídeas
e a ilusão das suaves índias que não conheço



al berto
salsugem
o medo
assírio & alvim
1997








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