15 maio 2018

paul éluard / o cutelo vai cair




O cutelo vai cair
Sobre o pescoço condenado

Um herói privado de armas
Uma mãe morta de cansaço

O sono junta-os a ambos
A manhã mal os desperta

Dissolve-os a fadiga
E a miséria separa-os

Vejo as costas de um casaco cinzento
Numa rua baixa sob a chuva

Vejo pigmeus sem consciência
Saudarem as bandeiras e orarem

Vejo soldados no meio da lama
Saudarem as balas com a cabeça

Vejo as casas demolidas
Como que por prazer para uma festa

Vejo um ventre escancarado
Às moscas ao sol apodrecido



paul éluard
algumas das palavras
trad. antónio ramos rosa e luiza neto jorge
publicações dom quixote
1977






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