24 maio 2017

vítor nogueira / mestre




Eis o segredo da arte: olhar constantemente
a calçada, nunca abandonar o martelo
nem a pedra que nos vem parar à mão.
Há que perder o medo e dar-lhe o golpe
certeiro. Ninguém quer saber quem somos,
só do que somos capazes.

Tudo isto é, porém, contrário à vida.
Os ciclos temáticos podem durar
dois, três anos? Duas, três décadas?
Será possível continuar a fazer eternamente
o mesmo? Como é que alguém, uma cidade,
pode ser tão claramente sádico?

Mestre-calceteiro, com o devido respeito,
não temos opinião. É mais seguro
nestes casos. Inferiores em número e armas,
o nosso olhar está na calçada, cegos
a tudo o mais que se mova.


vítor nogueira
telhados de vidro
nr. 12 maio
averno
2009






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