25 abril 2017

mário dionísio / à tua volta



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À tua volta
espalha a alegria

Não o contentamento
esse cântaro quebrado
num mundo sitiado
onde tudo nos magoa
e vira
contra tudo
o grande riso dos engenhos
para esmagar
o amor e a ternura

Não o contentamento
esse estou-me nas tintas dos velhos manhosos
coração ausente hilariedade
até nos tira a fome e a vontade
e tu próprio dilacerado
cativo
da ironia suja
dos arames farpados
dos sentimentos sepultados

Onde quer que sejas
onde quer que estejas
em liberdade
sem liberdade
acorrentado fustigado fica de pé


mário dionísio
poesia completa
le feu qui dort (1967)
imprensa nacional-casa da moeda
2016



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