06 março 2017

erdal alova / a mais velha amiga




Tristeza
Minha velha amiga
Folhas mortas que o Outono vai queimando
Mulher que limpa a casa que vai deixar
Vem, entremos com fúria no Inverno.
Como hei-de olhar o roxo!
Neva e as coisas vão lembrar-se de si mesmas
Uma cidade acorda as chuvas de outrora
Uma tesoura corta as luzes
Rasga o céu dos órfãos
Criança excluída do jogo
Lança um disco para o futuro
O homem vê-se pela primeira vez no seu sangue
Ao pôr-do-sol, o céu de Novembro
Enfia a sua linha no tédio do vizinho
E por fim
O soldado que chora no autocarro
Ganha confiança em si próprio
Quando apareces, tristeza,
Como a mulher que em segredo
Faz um casaco de malha
Mostremos as rosas escondidas
Entremos com fúria no Inverno.


erdal alova
a linguagem de areia   
trad. fiama hasse pais brandão
quetzal
1997





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