15 setembro 2016

herberto helder / em quartos abalados…



Em quartos abalados trabalho na massa tremenda
dos poemas.
Que me olham de tão perto que eu ardo.
Um dia hei-de ficar todo límpido,
ou calcinado nervo a nervo. Ou por me ver
Deus
de um canto das palavras, com sixtinos
dedos pintados em torno à voragem
diuturna, tocando na matéria.
Ininterrupto, eléctrico.
Alguém poderia dar um grito.
Quase morro de medo ao sentir o meu nome.
Penso que apenas numa hora o sangue encharcaria
a roupa de alto a baixo, enquanto
brilha o rosto.

Às vezes Deus torna-me rápido.
Às vezes há um candelabro.
Às vezes há os mortos de que se extrai o mármore

*

In stanze squassate lavoro sulla massa tremenda
dei poemi.
Che mi guardano cosi da vicino che ardo.
Un giorno resterò turro límpido,
o calcinato nervo a nervo. O perché mi vedrá
Dio
da un angolo delle parole, com sistine
dita dipinte intorno alla voragine
diuturna, toccando la materia.
Ininterrotto, elettrico.
Qualcuno potrebbe dare un grido.
Quasi muoiodi paura a sentirei l sangue impregerebbe
i vestitti da cima a fondo, mentre
riluce il viso.

A volte Dio mi rende rápido.
A volte c´è un candelabro.
A volte ci sono i morti da cui s´etsrae il marmo.


herberto helder
flash
empira
roma
1987




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