12 março 2016

irene lisboa / não




Sentada e brincando com a areia…

Há tanto tempo, tantos meses que não vejo areia

Deixando correr a areia das mãos distraidamente…

É a areia que me dá a imagem, a plástica expres-
são dos meus pensamentos.
Enchem-me a cova da mão, aquecem-na e logo
começam correndo, perdendo-se…
vem gente, passantes, vagos interessados  e incre-
pam-me:
Que fizeste dos teus pensamentos?
Não os vêem, grãos de areia disseminados.

Mas este pó sem consistência, imponderável, dos
pensamentos, por força se há-de fixar e brilhar?
Não.
O pó, a poeira no ar se respira, o próprio bafo
as espalha.



irene lisboa
um dia e outro dia…
outono havias de vir
obras de irene lisboa
volume I poesia I
editorial presença
1991



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