24 janeiro 2016

artur do cruzeiro seixas / as mãos escrevem nas pálpebras



As mãos escrevem nas pálpebras
a palavra astro
neste fim de tarde solitário.
A morte é a mais lúbrica das criaturas
e vem e vai
e pendura nas paredes
mil e uma fórmulas secretas
em que são iguais as quantidades de realidade
e do que a ela se opõe.
O Vento está visivelmente cansado
arranhou-se num espinheiro
e corre-lhe pelo peito quente
um fio de sangue.
Qualquer coisa como música
advém do seu silêncio
e o olhar é uma ponte nitidíssima
entre duas realidades que não há.



artur do cruzeiro seixas
a única real tradição viva
antologia da poesia surrealista portuguesa
perfecto e. cuadrado
assírio & alvim
1998




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