13 novembro 2015

josé antónio almeida / à mesa



À mesa do restaurante, sentado com o meu pai,
sem trocarmos entre nós uma única palavra,
chamei o empregado para pedir o almoço.
Então uma coisa inesperada aconteceu:
uma cara angélica aproximou-se de mim.
Via-se a silhueta do corpo sob a camisa
transparente e de mangas curtas, desabotoada
no colarinho e os primeiros botões de cima.
Concentrei-me com atenção nas oportunidades
Todas que me dava aquela situação de freguês
para olhá-lo e falar-lhe e até sorrir-lhe.
Encheu-me uma felicidade incongruente
Com aquela refeição que não era o banquete
que o outro pai partilhou com o filho pródigo.


josé antónio almeida
poemas
as escadas não têm degraus – 2
livros cotovia
1990




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