02 abril 2015

álvaro alves de faria / memória



A sorte que se joga
no dado permanente
na mesa desse jogo
o gesto e a serpente.
No número desse destino
que se quer sempre de frente.
A vida e a morte,
mais que naturalmente.
A veia que se corta
no pedido mais urgente,
o corte dessa gilete
na fuga incontinente.
O que se produz na saliva,
na boca da câmara ardente,
esse espectro mais escuro
do que era evidente.

Não cabe nessa memória
nem passado nem presente.
Só cabe o que não existe,
aquilo que se pressente.



álvaro alves de faria
poesia do mundo/3
edições afrontamento
2001



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