16 fevereiro 2015

eugénio de andrade / sul



Era por Agosto, há muitos anos.
O cheiro da sombra
das oliveiras subia ao ar. Vista de baixo
aquela folhagem parecia um mar,
um mar de vidro,
quando o sol obliquo lhe caia em cima.

Eram dois cães raivosos, eram duas
cobras enroscadas, eram dois rapazes
rolando pelo chão; lutavam,
mordiam-se, abraçavam-se.

Deviam amar-se muito, para se baterem
com tal ardor. Um sol verde
lambia agora a terra.

Eram muito novos, há muitos anos,
no pino do verão, debaixo de uma oliveira,
onde só as cigarras monotonamente
consentiam.



eugénio de andrade







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