12 setembro 2014

arnaldo saraiva / singela balada da procura da amada




Estive em berlim nasci
quando perto andava a morte
fui à coreia corri
a china de sul a norte
perdi-me na ínvia pista
que da índia ia à hungria
percorri falso turista
cuba congo angola argélia
indonésia vietnam
s. domingos ─ tudo em vão

falei a stáline a Churchill
avisti-me com de gaule
krutschev nasser e Johnson
telegrafei a fidel
e ao bom papa João
entrevistei Bertrand russel
pús anúncios nos jornais
mobilizei a interpol
observatórios centrais
ficaram sob meu controle
com james bond e outros mais
atravessei pólo a pólo
cavei o solo o subsolo
espreitei venus e o sol
mas nem sombras nem sinais
de helicóptero de jacto
de foguetão de lunik
de escafandro de trenó
gastei todos os projectos
esgotei todos os truques
vejo agora estou mais só

vejo agora que a ciência
mau grado a sua importância
só prolongou o silêncio
só alargou a distância
que isola a nossa existência

nesta altura da viagem
onde a virtude: esperar
onde esperar: a coragem

mas se viva ainda estás
que por mim jamais te vi
só te imagino a imagem
manda notícias por mar
terra ou ar que tanto faz
ou mesmo por telstar
decerto que em cabo kennedy
ou qualquer outro lugar
captarão tua mensagem
breve: telestou aqui

se não basta um balão sonda
um simples tele-sinal
uma micro micro-onda
do neutro silêncio astral
que a tua voz me responda
mesmo que da lua ou marte
mesmo que sem dizer donde
que diga NÃO HÁ MORTE

ainda que a morte ronde



arnaldo saraiva
1967





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