15 junho 2014

paul auster / desaparecimentos



1

De pura solidão, ele recomeça ─

como se fosse a última vez
que respirasse,

e é por isso agora

que pela primeira vez respira
para além do alcance
do singular.

Está vivo, e ele não é senão por isso
o que se afoga no insondável poço
do seu olho,

e o que ele vê
é tudo o que ele não é: a cidade

da indecifrável
ocorrência,

e logo a língua das pedras,
pois ele sabe que por toda a vida
uma pedra
dará lugar a outra pedra
para fazer uma parede

e que estas pedras todas
farão a soma monstruosa

da singularidade.


paul auster
poemas escolhidos
tradução de rui lage
quasi
2002




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