05 junho 2014

marc granell / requiem



Que a paz esteja convosco,
irmãos no egoísmo e na estultícia.
Que vos seja favorável e acolhedora
a ratoeira que durante séculos construímos
sob a pele indestrutível de cada inocência.

Duros são os tempos e é bom esconder
as mãos nos bolsos do consolo
propício, estudado a propósito
para esconder o odor da tempestade,
do vazio sem resposta possível
que nos despe os caminhos e o olhar.
Não há razões que nos conduzam à suspeita
da existência imprescindível da culpa
que, como um bosque conhecido e confortável,
instalámos no centro das nossas veias.
E, no entanto, é a casa onde habitamos
a angústia de sabermos a morte
quando nascemos nascida nas entranhas.

Algum dia tentarão talvez esclarecimentos
aqueles em que nos queremos mentir perpétuos.
Quebrarão os ferrolhos e uma a uma pendurarão
por toda a eternidade as nossas caveiras
sob a única e branca, gloriosa, gargalhada.


marc granell
quinze poetas catalães
tradução de egito gonçalves
ed. limiar, porto
1994




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