20 junho 2014

manuel de castro / tenho como certo que isto não resiste



Tenho como certo que isto não resiste
que eu próprio hei-de quebrar o berço aos pedaços
o berço delicado onde matei um jovem
a fim de o ver sereno listrado de luar.
Não olho para o sol. Sei que existe

pela luz quente aberta nos telhados
vermelhos onde o musgo é mágica subtil.
Sentir é uma febre de cansaços.
Sentir vai como febre nos nervos, sincopada,
onde se sabe que o corpo está presente

porque atirei o que visto para uma estrada
estando eu ali dentro casualmente
exactamente como o esforço fútil
de ver um pôr-de-sol e concordar.

E agora ─ nada mais que traços
em papel de seda, verde-claro, frágil…
nada mais que um pequeno segredo,
torres, e a nuvem que eu vou para existir
tão plenamente, um risco no lajedo…

Amanhã
serei bom
por música



manuel de castro
paralelo w
1958





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