10 maio 2014

antónio franco alexandre / terceiras moradas



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Julgavas, então, que a poesia era um discurso
de palavras em sentido? Sei quanto a musa aprecia
glória, poder e uniforme, quanto aguarda
o cavaleiro que produz.
A vida, afinal, anda lá fora, antes da folha
ter passado a prensa;
a mais pequena árvore é verde eterna, comparada ao arbusto
que, mal tocada a haste, se desvai em fumo.

Por isso eu fico lendo as crónicas, as lendas,
o jornal que, bem ou mal, cruza as palavras com o tempo,
e contudo! quando o lábio se engana, solta
a mais aguda fífia do trombone,
e de repente o corpo sabe a gente, e então se diz:eis
a verdadeira e pura poesia! pois seria, talvez,
somente a tua mão, cobrindo a folha.



antónio franco alexandre
terceiras moradas
poemas
assírio & alvim
1996



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