O cão tinha um nome
por que o chamávamos 
e por que respondia, 
mas qual seria 
o seu nome 
só o cão obscuramente sabia. 
Olhava-nos com uns olhos que havia 
nos seus olhos 
mas não se via o que ele via, 
nem se nos via e nos reconhecia 
de algum modo essencial 
que nos escapava 
ou se via o que de nós passava 
e não o que permanecia, 
o mistério que nos esclarecia. 
Onde nós não alcançávamos 
dentro de nós 
o cão ia. 
E aí adormecia 
dum sono sem remorsos 
e sem melancolia. 
Então sonhava 
o sonho sólido que existia. 
E não compreendia. 
Um dia chamámos pelo cão e ele não estava 
onde sempre estivera: 
na sua exclusiva vida. 
Alguém o chamara por outro nome, 
um absoluto nome, 
de muito longe. 
E o cão partira 
ao encontro desse nome 
como chegara: só. 
E a mãe enterrou-o 
sob a buganvília 
dizendo: " É a vida..." 
manuel antónio pina
primeiros poemas
todas as palavras
poesia reunida
assírio & alvim
2012
Seu poema me fez lembrar de um conto de Tchékhov: Cachtánca. Gostei!
ResponderEliminarAraceli Sobreira
Venha nos visitar também:
www.pedradosertao.blogspot.com.br
Lindo e triste...
ResponderEliminar